A arte sempre foi presente. E até hoje segue movendo muita coisa na minha vida, aguçando minha sensibilidade, trazendo conforto. Estudei jazz, ballet e piano clássico - e nesses dois últimos me formei ainda adolescente. Por volta de 13 anos, um súbito interesse pela área da saúde. Sem muita referência e ainda assim cheia de questionamentos, não restava nenhuma dúvida sobre ser médica. Aos 17 anos, ingressei na então Escola Paulista de Medicina, hoje UNIFESP.

Ginecologia e Obstetrícia me conquistaram logo no início do curso médico. Ali o contato da ciência com a poesia do nascer me levaram a admirar a especialidade. Ao longo do tempo entendi a importância da ginecologia na educação sexual, na contracepção, na prevenção de abuso - e principalmente o quanto isso poderia mudar o curso da história de cada paciente que chegaria até o serviço; o quanto se poderia, nesta especialidade, melhorar indicadores de desenvolvimento de um país - como mortalidade materna, neonatal, gravidez na adolescência. São quase 30 anos de experiência na especialidade e hoje atendo algumas pacientes que eu mesma trouxe ao mundo.

A graduação foi apenas o início da minha história com a UNIFESP, onde permaneço. Depois da residência, em 2003 passei a atuar em preceptoria e ensino. Além da troca com as novas gerações de alunos e residentes, a evolução social e a sensação de pertencimento num mundo em constante transformação são imensas. É onde me comprometo com a atualização constante, com a prática e ensinamento segundo a evolução da ciência - com condutas sempre embasadas em evidências científicas, ética, respeito pelo paciente, empatia e acolhimento.

Em casa também me cerco de mulheres. Tenho duas filhas hoje já adultas - que me ensinam todos os dias a desafiante arte de ser mãe, e também a experimentação de um amor imenso. A maternidade e a arte me trazem o conforto que se adequa à minha visão de vida e trabalho, onde enxergo não só as queixas que chegam até mim, mas sim cada ser humano, com suas histórias, dores do corpo e da alma.